2 de ago. de 2007

Haicais, enfim

Palavras podem ser mínimas e existirem por si mesmas.
Que bom!


Primeiro

À rua silente
A sombra da samambaia
Na porta de vidro.



"O haicai sempre exprime um momento vivenciado no presente. Sendo baseado na natureza, obrigatoriamente fala de coisas concretas, com existência física. E ao falar do presente através de coisas concretas, necessariamente alude à temporalidade, ao provisório e ao efêmero, marcas do mundo terreno. Em outras palavras, o haicai é um veículo para a expressão da transitoriedade. (...)

Ao exprimir um momento do presente, baseado na realidade física, o haicai se aproxima da fotografia. Sempre que olhamos para uma foto, aquela impressão visual se reaviva e se torna presente para nós. O haicai faz o mesmo, através da descrição objetiva de uma sensação física, que além de visual, pode ser também auditiva, tátil , olfativa ou de paladar. Esta sensação pode disparar uma lembrança ou um sentimento, o que pode ser expresso no poema. O contrário não é permitido. A sensação psicológica sempre nasce depois da sensação física.

Dizemos que o haicai pode ser comparado a uma fotografia, que é completamente diferente de um filme. O minúsculo tamanho do haicai não comporta cenários dramáticos, amplos movimentos ou planos em seqüência. Também não se trata de suprimir todos os elementos sintáticos como num telegrama, visando comprimir o máximo de palavras dentro de 17 sílabas. A descrição simples e sem artifícios estilísticos de uma sensação, deixando grande espaço para a sugestão, é a regra a ser seguida.

'Haikai não é síntese, no sentido de dizer o máximo com o mínimo de palavras. É antes a arte de, com o mínimo, obter o suficiente'. - Paulo Franchetti
"



Veio daqui.

Taí, gostei.

Nunca compreendera muito bem esse afã pelos haicais que a gente vê pela rede. Vamos ser sinceros: nunca vi muita graça. Um ou outro me encantava, era só. Sou leitora antiga de poesia e ainda me atrevo muitas vezes a domá-la, a tolinha aqui. Haicais, contudo, não estavam no meu roteiro de palavras.

Há coisas na vida, contudo, que a gente precisa entender para apreciar, creio (nunca pensara sobre isso mas é verdade). É um lento exercício. É assim com o haicai. A inspiração para ele poderá até me cair da da lua, mas em todo caso precisarei trabalhar, e isto exige disciplina. Ah, a disciplina, esta amiga que me encara com olhos frios que escondem sua bondade...

Haicais para ler. Por sorteio.

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