Assisti ontem o filme de Oliver Stone, Alexander sobre o qual o grande comentário que ouvira quando do lançamento (2004) era "o filme mostra a homossexualidade de um mito da história". Muita besteira pode ser dita sobre obras de arte, realmente. Apesar de ter alguns problemas que tive com o DVD, gostei muito do filme, e recomendo.
Ainda nâo sou tão acostumada com DVD, e como a edição especial que peguei continha duas opções de áudio em inglês (uma com o som original e outra com comentários simultâneos do diretor e do historiador Robin Lane Fox, especialista no tema e consultor de Oliver na produção de Alexander), me atrapalhei a ponto de resolver assistir a versão dublada, o que em geral não suporto. A dublagem era péssima, aborreceu-me demais. Para completar, no início da história alguém deve ter pulado algumas cenas no controle remoto, e a trama ficou muito sem sentido, porém não percebemos o que acontecera. Só quando, por pirraça (e graças ao fato de ser hoje feriado para mim), após haver decifrado a novela das duas versões de áudio em inglês, resolvi rever, foi que descobri este pequeno detalhe. As cenas contavam a vida de Alexandre até os 19 anos e eram fundamentais para o entendimento do enredo.
Apesar dos contratempos, gostei do filme. Quando assisti de novo, claro. E em inglês.
Muito interessante para mim foi a versão em que Oliver e Robin comentam as cenas. Você passa a olhar com os olhos do autor, o que é muito legal mesmo; principalmente quando percebemos que este não foi feliz no que pretendeu: ao dizer que colocou tal elemento no filme para que o expectador compreendesse tal coisa, e você observa que não foi atingido. Dá vontade de dizer: "aê, Oliver, deu errado!", heheheheh. Também não se perde em nada a graça da audiência, ao contrário, se acrescenta; entretanto não arriscaria ver primeiro esta versão. Claro, isto demanda tempo. Começo também a entender como é importante utilizar este artifício em filmes longos, com enredo mais complexo e sem estrutura linear. Lembro como foi confuso assistir JFK (que aliás também é de Oliver Stone), filme que adorei e pretendo rever. Quando se retrata fatos históricos, é melhor ainda. Era ótimo quando o consultor dizia, sobre determinada passagem: "isto realmente não aconteceu assim, mas Oliver achou que seria bom para realçar isto e isto e aquilo outro, mas como historiador preciso dizer que não foi assim". Bom, estava no alerta ao início do filme: não se pretendeu realizar um tratado sobre o personagem, é uma obra de arte, uma visão da verdade.
Não me animei muito com esta onda de épicos que tem assolado a sétima arte após ver e detestar Tróia, mas Alexander realmente mudou um pouco isto. O ator principal, Collin Farrell, a princípio não me convenceu muito (também, coitado, com aquela voz horrorosa de dublador brasileiro), porém sendo mais sensata, via de regra avalio sua atuação como razoável. Em termos de elenco, as mulheres tomam conta do filme: Angelina Jolie como sua mãe, a bela e diabólica amante de serpentes Olímpia, e Rosario Dawson, como a selvagem e exótica esposa bárbara de Alexander, Roxana . Val Kilmer me surpreendeu como Felipo, o caolho, seu pai. O visual do filme, como era de se esperar, é grandioso, um espetáculo a parte.
Antes de mais nada, o filme busca mostrar a grandiosidade da personalidade de Alexandre: um conquistador que não se contentava em explorar o conquistado (muito pelo contrário, incorporou a sua pessoa muito da alma asiática), que possuia um sonho, não alcançado, e por ele foi as últimas consequências, e uma visão, muito além do seu tempo, de um mundo único para todos os homens (sem entrar no mérito de ser isto ou não possível, claro).
E sobre homossexualismo, achei lindo o que Oliver fala acerca de sua real intenção ao mostrar esta faceta do mito. Claro que, primeiramente, buscou-se retratar a verdade: o personagem, em suas palavras, não era bissexual, mas trisexual, ou talvez pansexual; ou seja, aparentemente, e em linguagem chula, sendo gente, ele traçava qualquer variedade. E por fim, Oliver faz referência àquilo que Aristóteles ensinava para os meninos, futuros generais do exército macedônio que Alexandre liderou. Sobre o amor entre os homens, o amor-ágape, aquele que possibilita aos homens demonstrar um bem-querer, ou melhor, um "querer o bem", independente de atração sexual, por seus amigos. Era assim a relação ente Alexandre e Heféstio, a quem o diretor define como "almas gêmeas". Como dizia Milton, "qualquer maneira de amor vale a pena".
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