Uma pessoa me lembrou que hoje o meu poeta faria 103 anos, se ainda estivesse entre nós, em sua labuta da palavra, que era única.
Derepentemente a carroça aqui resolveu andar e estou conseguindo postar. Devem os deuses da poesia estar dando uma forcinha.
Peguei meus três livros dele e abri ao acaso. Caiu neste.
"Presença de Mira
A Stefan Baciu
O errante colar de lembranças e metáforas,
apaga-se no colo de Mira.
Maintenant je ne serais nulle part.
Quem sabe?
Mira, hei de encontrá-la sempre em alguns versos
que falam da criança construindo na areia
palácios e jardins de pátria proibida;
que contam do domingo, costa de solidão,
e da mulher agitando um xale imaginário,
e do esquecimento, que é um papagaio de papel.
Não preciso escutar
o tambor do corcunda anunciando as notícias,
para saber de Mira.
Neste grão de café encontro Mira pensando no Brasil."
Não aguento, vai mais uma. Só um pedacinho.
"Larga, poeta, a mesa de escritório,
esquece a poesia burocrática
e vai cedinho à fila do feijão.
Cedinho, eu disse? Vai, mas é de véspera,
seja noite de estrela ou chuva grossa,
e sem certeza de trazer dois quilos.
Certeza não terás, mas esperança
(que substitui, em qualquer caso, tudo),
uma espera-esperança de dez horas.
Dez, doze ou mais: o tempo não importa
quando aperta o desejo brasileiro
de ter no prato a preta, amiga vagem."
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