27 de jun. de 2005

Três Vezes Rio de Janeiro

Fiquei comovida pelos apelos (pena que a Telemar não se comove também). Vamos falar então de cinema.

Como sabem, faz pouco que comprei um aparelho de DVD, então minha agenda de filmes até que anda mais gordinha que outrora. O que tem faltado mesmo é tempo para resenhar as películas (ah, que nome lindo). Férias, entretanto, são férias, e ainda que eu tenha uma dissertação para um concurso acadêmico em que me inscrevi (valendo como Atividade Complementar, da qual preciso conseguir ainda 98 horas até o fim do curso), além das tarefas domésticas (dei mini-férias de três dias para a secretária, que afinal ela também é filha de Deus) e as costumeiras bronquinhas extras a serem resolvidas, pernas pro ar que eu também sou filha de Deus. Ah, minhas férias infantis começam quinta, quando Clarota finda suas aulas do primeiro semestre.

Recentemente assisti a três filmes brasileiros cujo pano de fundo (e porque não dizer, um dos personagens principais) é a Cidade Maravilhosa, aquela por tantos anos aguardada e idealizada em meus sonhos adolescentes. Vim a conhecê-la já no tempo das desilusões (HAHAHAHAH, adoro esta fala antiquada), sem porém não haver me desiludido em nada, visto que ela apresentou-se exatamente como imaginei: descarada, de inigualável beleza natural e totalmente caótica.

O caos da grande cidade é o tema central de Edifício Master, documentário de 2002 do mesmo diretor de dois outros bons filmes, Cabra Marcado para Morrer e Santo Forte, Eduardo Coutinho. Em duas horas de entrevistas a 37 moradores de um imenso condômínio de kitinetes no centro de Copacabana, no qual a equipe se instalou por um mês, Coutinho traça um retrato fiel da sociedade decadente e maravilhosa desta "civilização encruzilhada" que é a lindíssima São Sebastião do Rio de Janeiro. O estilo despojado, improvisado, da obra, agradou-me, os "atores" foram muito bem conduzidos, emocionaram-se, riram, contaram-se enfim. É um excelente filme que recomendo.

Falando em Chico Buarque, também o Rio de Janeiro é o cenário de Benjamim, filme baseado em seu livro, que inclusive li a um tempo. Cá entre nós, o filme é visualmente belo (o Rio de Janeiro está ali em seu esplendor), Cléo Pires é realmente qualquer coisa (fisicamente falando, embora ainda não me convença como boa atriz), porém a história a mim pareceu apenas um pouco menos confusa que a narrativa do romance. E mais chata. Ademais, enquanto o Chico construiu a trama de maneira que apenas aos poucos a realidade se revela, no filme você fica sabendo muito logo ao começo. E o ritmo é muito lento. Não sei, não me capturou este. Uma pena.

Por fim, o créme de la créme. Realmente, apesar de ser sim um filme chocante pela forma como apresenta o sexo entre homens (e em geral não me agrada tanta crueza; foi também bastante comentado este aspecto na época do lançamento), gostei muito de Madame Satã. Lázaro Ramos está maravilhoso no filme, é um ator porreta. Eu o vi a primeira vez atuando em A Máquina, peça de direção do João Falcão. Sua atuação é arrebatadora, consegue fazer com que você se apaixone pela personalidade de João Francisco dos Santos. Esquisito, não? É um personagem totalmente adverso: cafetão, enaganador, desordeiro, homossexual deslavado, promíscuo, assassino. Porém o filme consegue mostrar que havia um centro naquele homem, uma personalidade forte e poderosa, desorientada pela força bruta da pobreza, da miséria, do submundo, e que reúne em torno de si uma estranha família de bichas, putas e amantes. E, claro, o filme se passa na Lapa, sempre Lapa, e não seria necessário que a cidade fosse muito mostrada: Madame Satã é a própria Lapa, e a Lapa é o próprio Rio de Janeiro.

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