6 de dez. de 2005
Assim como os homens, estes pequenos seres...
Gosto de acordar e descobrir: é cedo. Ainda que nublado o dia, como hoje. Repete-se a meses; não me acostumei ainda, porém, ao ponto de não achar bonito, felizmente.
Só me aborrece, nas observações matinais, que os passarinhos me percebam e, por isto, não venham até o bebedouro de plástico que adorna meu terraço. Se deixo a varanda e me refugiu na sala, pronto, eles voltam (seria mais confortável não fossem tão ariscos os bichos, é certo). Aprecio a observação de suas estratégias de proteção e alcance d'água.
A "vigilância constante" do beija-flor me lembra, claro, certo personagem de tema fantástico, guardadas as devidas dessemelhanças físicas, decerto (quem sabe quem é, sabe... quem não sabe, paciência...). Ele - o bichinho, não o dito personagem - posta-se num galho a média distância, em guarda, a cabecinha miúda a girar em noventa graus de um lado a outro, asas a postos. Só muito raramente relaxa, limpando o peito claro com o bico.
Aproxima-se o pequeno sibito com que disputa território o majestoso pequeno, e se faz anunciar precocemente. Pia muito, o bobinho. Pulando entre os galhos do pé de mulungu, ele chega perigosamente a seu destino – no que é atacado com vigor pelo beija-flor. A esta altura, para mim, porém, o mais bonito já é o marginal. Quem chegou primeiro? Não sei. Ante a ferocidade que move o beija-flor, de fato, resta-me somente a torcida silenciosa pelo pássaro mais indefeso.
Apenas aparentemente mais indefeso, descubro no entanto, em pouco tempo, é o sibito. E sua arma, percebo, é a persistência: trata-se de um ser incansável. Vai chegando muito devagar, experimentando todos os caminhos. Pia muito, repito, e também traz seus colegas, às vezes, a depender da necessidade. Sai, mas volta. Não é apenas uma, ou duas, ou dez vezes. Resiste à fina e rápida garfada do beija-flor, e quando não dá mais, ele sai. Mas volta. Ah, disto estejam certos. Ele volta. Quer a água.
De repente, o sibito resolve peitar o beija-flor. "Vamos ver se cola", raciocina seu cerebrozinho de ave. Pousa em um galho entre a flor artificial e o adversário, plagiando a canção: "se você quer brigar, pode vir quente que estou fervendo!". Desta vez, o embate se completa, e os dois saem se embolando entre as folhas de verde maduro e galhos curvos. Un segundos e retorna a meu campo de visão, vitorioso, o pequeno sibito. À segura distância espiam seus comparsas, que nada custarão a aproximar-se, na mesma técnica do campeão, que também os repelirá a princípio, mas a pendenga decerto trará menor exaustão. Logo logo eles se confraternizam em torno do copo encarnado, sorvendo a conta-gotas o prêmio merecido...
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