26 de nov. de 2008

Momento terapêutico

Quando eu não mais reter a ilusão de que controlo os mínimos movimentos que executo.
Quando não me vier medo algum do que seu fulano ou dona sicrana especulem sobre a minha pessoa.
Quando eu não necessitar encobrir meus defeitos e virtudes por esta desconhecida razão que, para minha consciência ao menos, até então não desabrochou.
Quando eu encontrar o centro de mim mesma e afirmar "é aqui que estou", sem rodeios.
Quando aqueles que me forem caros possam ser por mim fitados sem este receio essencial da fatal facada nas costas da qual jamais me será possível safar, se porventura ela tiver que vir.
Quando eu puder apenas voltar a ser o que sou da maneira mais livre, pura e simples, a despeito do olhar oblíquo, do ranger de dentes, do sorriso amargo, que me contaminam a tal ponto de adoecer-me.
Quando me for possível atravessar portas, abismos e corredores como se nada ao meu redor pudesse ferir-me, e apenas uma luz intensa pulsasse em meu caminho.
Quando a minha mão não mais necessitar escrever o que está dito nesta página.

Aí eu poderei a todos e a mais alguns informar que agora sou uma mocinha crescida.


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O culpado por esse texto é tão somente o Senhor Raimundo Carrero (escritor pernambucano dos mais talentosos, para quem não conhece), que outro dia no rádio falava sobre o que deve fazer aquele que quer escrever bem. O que deve fazer quem deseja escrever bem? Tão somente escrever, diz o Senhor Raimundo Carrero. Qualquer coisa que lhe venha a telha, em palavras chulas, simplórias ou suburbanas. Não depreciar as idéias ruins, explorá-las. Deixar o pensamento correr livre sobre o papel, sem amarras.



Senhor Raimundo Carrero



Carrero tem um programa diário na CBN da terra, sobre literatura, creio eu às 15h. Muito legal, para quem se interessa pelo tema.


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E por falar no Senhor Raimundo Carrero (link em riba), bom seu site, recomendo. "Quando se escreve, se mexe com os demônios mais secretos"... O escritor organiza oficinas literárias tanto presenciais quanto virtuais. Se eu estivesse com tempo, não tenha dúvidas de que faria a virtual.

Sobre o site ainda, a única pena é que lá não tenham sido disponibilizados mais trechos de seus livros, além de um capítulo de um deles. Não que seja dos meus escritores prediletos - porque é uma literatura pesada e crua em demasia a sua, pelo que concluí da leitura do único livro seu que li, A Dupla Face do Baralho -, mas, enfim, foi algo de que senti falta, até para animar-me a novas incursões na sua obra...

Um comentário:

Marco Yamamoto disse...

Post duplamente interessante.

Bonito texto que vc escreveu e ótima dica que vc passou.

Cheguei no seu blog, sentei, relaxei, meditei e parti.

Volto em breve.

;)

abraços