10 de set. de 2005

Réu confesso

Eu já comi comida que caiu no chão.
Já espiei uma pessoa escondida no carro
e já sai de noite atrás de outra.
Já comi do prato depois de achar cabelo.
Já chorei com comercial,
já fiz bolo "solar",
já fui filha rebelde,
e já vi bem de perto alguns cigarros de algumas coisas, já, mas odeio fumaça.
Já chupei cabelo molhado,
já dancei balançando a cabeça,
já virei noite estudando, farrando,
lendo e navegando,
mas nunca trabalhando,
que Deus é pai, não é padrasto.
Já cortaram meu ponto,
já tirei zero,
já tirei dez,
já joguei no trabalho,
já estourei cartão,
já estraguei almoço,
já peguei no pé,
levei empurrão,
cai de moto,
salvei vida,
bati carro,
dei tapão na cara, sabe bofetada?
Taquei um livrão numa cabeça,
certa feita.
Roubei caneta,
lavei motor que não podia,
me fiz de vítima.
Esqueci torneira ligada,
esqueci chave por fora,
esqueci de fechar a porta,
(filha no carro, porta abrindo, carro rodando),
esqueci, esqueci, esqueci.
Perdi carteira,
perdi cartão,
perdi filha na praia,
perdi, perdi, perdi.
Derrubei do carrinho,
devolvi fósforo aceso a sua caixa.
Pus fogo em bolo de aniversário.
E namorei em alguns lugares improváveis,
sim, eu namorei, mas quem não fez?
Me embriagar, precisa falar?
Chorar sentada e bêbada na calçada, precisa?
Só uma vez.
Tive crise de riso com "Débi e Lóide", "Corra que a polícia vem aí", não cheguei na metade, entre outros, de "O Mundo de Sofia" e "O Senhor dos Anéis", sem falar que vi todos os filmes mas não gostei mesmo de nenhum.
E não, não passei ainda do Nível 8 no Clue Side.
E, sim, eu tiro catota. Muita.
Mas nunca, nunca atendi celular no cinemateatroreunião.
Só na aula, pouquíssimas datas.
Escrevi poema,
escrevi letra,
escrevi canção,
plantei árvore,
fiz blog e fiz filho.
Mas não posso morrer,
deve ser pelo livro.
Mergulhei com peixinho
e tubarão, literalmente,
essa não pode faltar.
Voei de ultra-leve,
desmaiei por anemia,
mas nunca quis me matar,
não, não, não, não,
considero um privilégio.
Já fui bem mazinha,
tenho cara de chata,
tenho quadril muito grande,
tenho cara de índia (ou de hindu, talvez),
tenho amor platônico,
fiz milhões de listas,
um milhão de feiras,
um milhão de dívidas,
greve, passeata,
e também 'tava nas "diretas-já",
na carreata do impeachment,
e, sim, votei três vezes no Lula,
e, sim, ainda não acredito em "voto em branco".
E, ainda, devo confessar, estraçalhei alguns corações,
poucos, não por mal,
em troca já me dei mal com o rapazinho das asas, pode crer.
Já dei grito em menino,
já dei palmada em menino,
já menti prá menino,
pus de castigo mesmo meus sobrinhos,
e pus menino prá dormir mais cedo para ver o filme das dez, isso eu fiz.
E menti para ladrão, isso faz mal?
Mentir socialmente já menti.
Mentir por causa nobre já menti.
Mentir descaradamente não menti,
devo confessar.
Não faço escova mais de uma vez por semestre,
não faço as unhas mais de uma vez por mês,
e lavo cabelo dia sim dia não,
mas jamais passaria oito dias sem lavá-lo por uma escova,
perdoem-me as vaidosas.
Adoro e não sei dançar.
Adoro e sei nadar.
Adoro e sei cantar, mas estou perdendo a voz.
E odeio celular.
Pari de parto normal e dei de mamar.
Fiz sobrancelha só depois dos trinta.
Não depilo com cera, viva a lâmina.
Tenho celulite, sobrepeso,
mas estrias não, muito menos na barriga
mas isso (barriga), tenho, sim,
daquelas que faz dobrinha.
Tenho inveja, sentimento de posse e ciúme.
Compulsão alimentar.
Pronto.
Podemos começar a sessão?

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