28 de set. de 2006



Olhei a pouco esta face na televisão e um nó me subiu à garganta.
Porque lembrei que foram outros os olhos com que a assisti quatro anos passados, e em outros quadriênios anteriores, no tempo em que eu e tantos outros acreditavam em algo.
Não porque ele sabia, especificamente.
Porque não consigo mais extrair desses olhos uma certeza que era extrema ante o reflexo dos outros olhos que o fitavam.
Esta face me lembra outras faces.
Invadiu-me um perplexidade sem raiva, ódio, temor,
mas transbordante de uma amargura muito surda que virou lágrima.
Uma desesperança profunda quanto ao futuro, um cair os pés na terra afinal, de que a juventude acabou em mim.
Sentimento estranho, opresso, para quem reluta permanentemente a afastar-se de um furor que era meu, e parece que já não é mais.
Sentimento associado a tantas outras perdas pessoais, encantos que se foram, aguardando que a trilha de flores que se tornou deserta se torne estrada madura.
Estou ficando velha.
Finalmente a frase da canção é verdadeira e sei que é exato isto o que ocorre, aquilo que supúnhamos não seria nosso destino: “ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”.
Não sei que futuro haverá para minha filha. Luto dia a dia para que exista um futuro permanentemente a sua frente, mas agora duvido demais. Queria que ela fosse por tantos anos crente como fui. Mas não sei se isto será possível.

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