Lendo Dona Vera, soube da Blogagem Coletiva sobre Ética proposta por Laura em seu até então para mim desconhecido Laura Vive (parabéns pelo blog e pela iniciativa, Laura, nesses tempos de tão intenso vazio de Bem , e mais especificamente "momento depressivo" nacional no que tange a política - adorei a expressão). Não estou inscrita na blogagem e não ando disposta, como a maioria, a discutir política, mas enfim, estava escrevendo sobre algo e percebi que era sobre ética que falava.
Era esse o texto:
Vou-lhes dizer algo: tenham sempre muito cuidado com bondade excessiva. Pode parecer estranho esta fala, vinda de minha boca, pois sei ser exatamente esta a impressão que muitos tem de mim ( e vai ver por isso mesmo alguns de mim desconfiam, no caso, os menos espertos). O fato, porém, é que sou exatamente aquilo que demonstro ser - uma pomba-lesa - fazer o quê? Uma idiota em estado puro. Não, não se trata de crise de auto-estima (no máximo, um tico), porque possuo decerto uma espécie de orgulho por esse estado de pureza que, embora dificulte a vida, me fortalece tantas vezes. Mas, voltando ao começo, quero lhes dizer que duvidem. É uma tola que vos fala. Duvidem, sempre. Duvidem da pele de carneiro que reluz sobre os ombros alheios, porque raramente ela escorrega. Duvidem da prestimosidade em excesso, do zelo em excesso, da atenção em excesso. Humildade em excesso: também é mau sinal. Este é um exercício que muitos aprendem e põem em prática por inconsciente necessidade de sobrevivência, talvez. Ou não (essa minha eterna tendência a ver tudo com bons olhos me mata). Mas enfim. É uma forma cruel de lidar com os que são verdadeiramente crentes nas virtudes. Deixar-se envolver por este jogo machuca tais crenças e confunde os valores.
No fim das contas, ética não é algo segmentado, que se deva esperar dos políticos e dos administradores. Ética é um exercício contínuo e que se confunde com o ar que respiramos, e que devemos vivenciar a cada passo que damos, cada vez que olhamos alguém ao nosso lado. Incrível como somos capazes de desvirtuar, sem nos dar conta disso, as relações mais próximas que cultivamos, e fazer mal ao próximo sem disso nos aperceber. Há situações culturais tradicionalmente consideradas normais que na verdade expressam esse "atraso ético" que vivemos (péssima expressão, de fato, mas sei que vocês entenderam). É o pai e a mãe que instigam o consumismo nos filhos com promessas de mil presentes, gerando monstrinhos que apenas comprendem o verbo ter. É a moça seminua que transita na calçada vendendo sua imagem sem conteúdo, e de tal forma aquele sentimento se cristaliza nela que, realmente, ela passa a não conseguir desenvolver conteúdo algum mais, e tantos dissem: "Qual o problema em mostrar o corpo? Quanto puritanismo!". É o macho que crê poder guiar suas atitudes junto à mulher pelo que dita seus hormônios, a despeito do sentimento alheio, porque, enfim, nos dias de hoje, sexo é tudo. É o pagar aos "serviços" do flanelinha de rua que "toma conta" da sua rua, pois é ele seu dono. É o olhar por cima seus subalternos, depreciando-os sem emitir som. Enfim, poderia passar o resto da noite a enumerar situações. Resumo, porém, como a seguinte máxima: esse é o mundo construído por nós. Não pelos políticos, que são, de fato, seus maiores beneficiados. Mas eles não são senão o reflexo daquilo que permitimos que sejam. Reflexo das atitudes que temos ou que admitimos nos outros. Se cada um pensasse apenas 10 minutos por dia nisso, quem sabe teríamos um mundo melhor e seríamos mais felizes...
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