7 de jan. de 2005

Amélia Cláudia Garcia Colares

De férias, enquanto a meninada bagunçava por aqui, consegui assistir um pouco de televisão em tarde de dia útil: coisa boba, comum, mas que me remete a um tempo em que eu tinha tempo para fruir a vida, o que me deixa feliz, me dá uma paz, não perguntem porque: sou assim mesmo, pequenas simplicidades me satisfazem. No que me deparei com um programa de um radialista daqui de Recife do qual nunca gostei muito, e a entrevistada era ela. Resolvi assistir.



Ela começou a contar coisas legais da sua vida, eu fui escutando. Que saiu de Fortaleza, que 'debutou' no mundo artístico no seu encontro com Vinícius. Que sua família toda era muito ligada a música, que aconteciam muitos saraus na sua casa. Que tinha uma tia que virou freira por imposição familiar, que costuma dizer que era para ter sido cantora. Que teve dois filhos com Zé Ramalho. O cara perguntou se eles era amigos, ela disse que eles se falavam. Ela cantava Elomar desde o tal encontro com o poetinha, e eu não sabia, a trinta anos atrás (ah, era esse o mote da entrevista, os seus trinta anos de carreira artística, neste ano de 2005). Cantou um trecho de Seresta Sertaneza. Vou te dizer. Ela não é mulher bonita não, mas quando abre a boca, fica linda. E a Gal que me desculpe, mas a verdade é que, com a idade, a voz de Amelinha não mudou, diria que está muito melhor, firme, bela e poderosa.

Não resisto a colar umas preciosidades que ela canta. De um tempo em que o Fagner ainda fazia coisa que prestava. Estão de uma coletânea que tenho, Amelinha 20 Super Sucessos, altamente recomendável. Tem também o volume 2, quero comprar.

Santo e Demônio(Fagner / Ricardo Torres)

Sou a avenida cheia
De gente rápida e feia
Sou colorida inteira, concorrida e meia
Sou diariamente a dor que me passeia
A dor que me anseia ser
Particularmente rua

Sou um sol brilhante
De um dia incandescente
Sou luz calor calante
Bruxa de um chão doente

Sou diariamente a dor que me passeia
A dor que me anseia ser
Particularmente, lua

Sou toda gente em mim
Santo demônio em mim
Deus e o diabo em mim
Céu e inferno em mim

Sou diariamente a dor que me passeia
A dor que me anseia ser
Particularmente, tua.


Flor de Paisagem
(Robertinho do Recife/Fausto Nilo)

Teus oio é a flor da paisagem
Sereno fim da viagem
Teus oio é a cor da beleza
Sorriso da natureza
Azul de prata, meu litoral
Dois brincos de pedra rara
Riacho de água clara
Roupa com cheiro de mala
Zoinho assim são mais belo
Que renda branca
Que renda branca
Que renda branca na sala
Quem vê não enxerga a praia
Nós num lençol
Nós num lençol
Nós num lençol de cambraia

Teus oio o fim da viagem
Amor de papel de seda
Teus oio clareia o roçado
Reluz teu cordão colado



Depende
(Fagner/Abel Silva)

O olho por fora,
O dente por dentro:
Meu riso na cara do tempo.
O olho por dentro,
O dente por fora:
Meu riso na boca do vento.
Conheço a cor dos seus cabelos,
conheço a cor dos olhos teus.
É verde, azul, é negro, como uma noite sem lua,
É claro.
Como a frase não dita: é dessa cor.

Depende da cor da tarde morena (Conheço a cor dos seus cabelos)
Depende do amor de minha pequena (Conheço a cor dos seus cabelos)
Depende da cor da tarde morena (Conheço a cor dos seus cabelos)
Depende do amor de minha pequena (Conheço a cor dos seus cabelos)


Aprender a voar
(Beto Mello)

Olhos no chão
Eu vou prendendo os meus papéis pela manhã
Eu vou montando a minha própria solidão
Com os olhos presos na parede
as minhas mãos
vão arrancando em cada corda uma verdade

Essas cordas não mentem
Essas cordas
não sentem o sufocar do tédio e do medo
o sufocar do tédio e do medo

O chão ruim,
o peso dessa melodia aflita
o peso dessa, aflito

Só me resta juntar os restos
Rastejar
juntar os rastros
Rastejar
juntar os restos
Rastejar
juntar os rastros
Rastejar
Até a aprender
Até a aprender
Até a aprender
A voar

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