8 de nov. de 2007

Dia 8

A morte aproxima os afastados. É um movimento novo na rotina dos dias. Por medo, talvez: recordamo-nos que a morte virá para todos. Ou talvez seja lembrança. Somos criaturas sem fé e memória. Lembramos dos que se foram, os cuidados vêm. A vida é exigente. Não cabe lembrar-mo-nos um dos outros sempre, no vasto universo dos que passam. Daí vem uma foto que ficará na retina por muitos e muitos dias. Talvez por isto valha a pena viver a vida sem perdas. Buscando seu sumo e trazendo para si os que se quer bem. Tendo apreço, carinho, delicadeza, suavidade. Se eu não posso te ver sempre, que ao ver-te seja gentil, alegre, zeloso da tua presença. Que eu jamais erga para ti a voz alta das minhas torturas íntimas, de meus traumas irremediáveis, de minhas frustrações legítimas, mas minhas, não suas.



Saudades dos saraus em que você cantava assim:

"Oh! tristeza me desculpe
Estou de malas prontas
Hoje a poesia
Veio ao meu encontro
Já raiou o dia
Vamos viajar.
Vamos indo de carona
Na garupa leve
Do vento macio
Que vem caminhando
Desde muito longe
Lá do fim do mar.

Vamos visitar a estrela
Da manhã raiada
Que pensei perdida,
Pela madrugada
Mas que vai escondida
Querendo brincar.
Senta nessa nuvem clara,
Minha poesia,
Anda se prepara,
Traz uma cantiga
Vamos espalhando
Música no ar.

Olha quantas aves brancas,
Minha poesia
Dançam nossa valsa,
Pelo céu que o dia
Faz todo bordado
De raio de sol.
Oh! Poesia me ajude,
Vou colher avencas
Lírios, rosas, dálias
Pelos campos verdes
Que você batiza
De jardins do céu.

Mas pode ficar tranqüila,
Minha poesia,
Pois nós voltaremos
Numa estrela guia
Num clarão de lua
Quando serenar.
Ou talvez até quem sabe,
Nós só voltaremos
No cavalo baio
No alazão da noite
Cujo o nome é raio,
Raio de luar."

(Viagem - João de Aquino/Paulo César Pinheiro)

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