13 de mai. de 2007

Dona Judite

Dona Judite, venha cá. Bom dia, mãe. Espere. Não levante ainda, só porque chamei. Esqueceu? Não tenho mais cinco anos, até eu já parei de atender sua neta tão prontamente, e ela já vai fazer nove. Está frio ainda. São cinco e trinta da manhã. Não gostamos muito de dormir, você sabe (a genética é implacável).

Não levante ainda. Primeiro, faça suas orações, meditações e alongamentos no leito. Tem muitos por quem rezar, só não esqueça de si própria, ok? Sempre é tempo de se acostumar com isso. Tem pressa não, tá tão bom aqui. Aí tá? Adivinhe? Lembra aquele disco que você tinha? Viva Vanusa? Lembrei dele inteiro esta semana. Ah, como eu o ouvia, e a culpa é sua que eu goste de Vanusa. Mãe, pelamordedeus, uma criatura em pleno século XXI gostar de Vanusa? Que mico. Culpa sua. Como de muitas outras coisas. O Gaiarsa está certo!

Lá vem você, arrastando chinelos. Há anos não a vejo descalça, porque será? Por causa do quintal. Você não pode cair de novo, não esqueça. De que coisas gosto por culpa sua? Roberto Carlos, por exemplo. Acordar de manhã e adorar ouvir na cozinha o radinho de pilha afirmando: "não me canso/de falar/que te amo/não vou ser triste/nem vou chorar/por mais ninguém". Ó, dó! Felizmente, escapei das antigas, você também não gosta mais. É culpa sua eu saber todas as letras antigas do Rei.

Ah, um minuto. Mãe, estão soltando fogos! Mãe, como você está importante! São para você, você sabe. 102 anos da coisa, coisa nenhuma!

Agora, estou ouvindo da Vanusa aquela famosíssima, deixa eu cantar para você. Será que você gosta dela? É a sua cara.

"Eu quero sair/Eu quero falar/Eu quero ensinar o vizinho a cantar/Nas manhãs de setembro" (Manhãs de Setembro - Vanusa e Mário Campanha)

Revista Cláudia. Lembrei. Outra coisa que gosto por culpa sua. Mãe, que foi aquilo? Revista Cláudia me educou! Ok, ok, Revista Cláudia é uma boa revista. Ensina a ser mulher (kkk). E esse jeito de ser tão boazinha com todos ao ponto de me darem este apelido Sweet por aqui? Quem me ensinou? Você! Está vendo, tudo culpa sua.

A culpa é das massagens nos pés que você me fazia quando estava doente. E de só sair do quarto depois que eu dormisse. E havia ocasiões em que acordei com você ali ainda.

Mãe. Hoje acordei com alguém entrando no quarto. Sua Estrela. Entrou, deu aqueles abraços que nos derretem, sentada na cama e inclinando-se sobre meu peito como se fosse dormir ali mesmo. Depois saiu. Que coisa boa, linda, maravilhosa. É por isso que você me ama tanto, agora eu sei. A história se repete.

Já já eu chego. Fica com Deus, até lá. Feliz Dia das Mães, todos os dias. Ah, você não sabe o que é isso, mas tem musiquinha no sub-title para você, ok?





Para todas vocês também.

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