21 de jun. de 2006

"Ah! o amor!"* ... ou o romântico, como queiram

Sofro de uma tendência irreversível de alcance e efeitos, em determinadas ocasiões, alarmentes: sou uma romântica. Entendo muito bem, portanto, este ser apaixonado, silencioso, afeito a explosões internas e raras erupções, devastadoras quando efetivadas. A lava, contudo, não queima o romântico, e ele nunca se cansa de desejar as chamas, mistura dor e prazer num não-sei-quê enlouquecido que é prato cheio aos psicanalistas da alma humana.

Sou, contudo, uma romântica cética, em lapsos de lucidez que me acometem mais vezes, acredito eu, que aos demais românticos: sei que deve haver uma justificante patologia psíquica a explicar o romântico. Deve ser o ascendente em capricórnio que leva-me a pensar assim. Também não me perguntem, astrologicamente falando, de onde vem este romantismo, visto que geminianos, salvo engano, não são essencialmente românticos – borboleteiam mais que amam. Isto não "herdei" de meu signo astral, possuo as provas (que não interessam aos senhores e senhoras conhecer). Deve haver alguma lua em vênus em meu mapa astral, imagino, pois, e um dia ainda o faço (o mapa astral), para confirmar.

O romântico é um figura datada, atemporal, para ele os séculos não se passam. Há sempre aquele ideal de beleza inatingível, algo que apenas ele compreende, nem mesmo os outros apaixonados. É um ser sozinho, portanto, sempre. Por mais amantes que possua, pois julgo eu que o amor do romântico nada tem a ver com sexo. Deve existir romântico "de tuia" atolado até o pescoço em aventuras meramente sexuais. Sexo, não esqueçam, serve em demasia como válvula para todo tipo de loucura, até mesmo desta chamada "ser romântico".

Sendo sozinho, o romântico é alguém que está sempre a espera. É um expectador. Espera um chamado, uma sombra, um vulto, uma voz, uma canção, porta que bate, telefone que toca, um olhar diverso, uma palavra numa tela. Não sabe nem o que espera, mas espera. Neste sentido, o romântico é definitivamente um bobo, pois o mundo, vocês sabem, é esta selva de pedra nossa de cada dia. Muito pouco romântico é o mundo. Por mais que as rádios não parem de tocar canções de amor, e nas novelas todo mundo se apaixone toda hora (por pessoas diferente, é certo), e todo semana uma nova comédia romântica seja lançada nos cinemas, o fato é que o "mundo moderno" (assim mesmo entre aspas, pois visto como ser único e mitológico) odeia o amor. Não há nada neste nosso mundo moderno que dê nem sequer um palito de fósforo de confiança ao amor. O amor, para este mundo, é de fato uma boa duma merda.

Ando obcecada pelo texto do Arnaldo Jabor que gerou o sucesso da Rita Lee, “Amor é prosa, sexo é poesia”. Já postei a canção duas vezes aqui. O livro encontra-se neste momento ao meu lado (tô curtindo). O Jabor concorda comigo quando fala: "O amor depende de nosso desejo, é uma construção que criamos". Sim, correto. Porém eu acrescentaria ser uma construção inconsciente. No começo. Pois é também um jogo que alimentamos e apreciamos jogar, ele nos diverte mesmo quando sofremos com ele. Tem algo de masô(quista) nisto, portanto, daí seu "quê" patológico. O romântico é um incorrigível, é o hipertenso que come sal, o diabético que come açucar. É um viciado, um caso perdido, não há jeito para o romântico. Plagiando o Jabor, quem souber o jeito, emails para maio26@gmail.com...


* O suspiro saiu daqui.


Ouvindo essa romântica (com a moça, não com os moços, por favor)...

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