Muitas vezes, um texto brota na mente por mero descuido. É um vício de feroz descontrole este de disseminar idéias com palavras. Por isso os blogs (claro, na minha teoria eles também são terapia, mas isto vocês já sabem, mandem a notinha). Foi assim com o que está a seguir...
.
.
.
Por que se fala tanto nos dias de hoje em auto-ajuda? Antes de mais nada, porque precisamos de ajuda, lógico. Mais óbvio ainda: é um mundo de mesquinheza e isolamento este que habitamos. Vivemos para nós mesmos – cada vez mais se faz rara a possibilidade de olhar ao lado e dizer: "olha, tenho este problema aqui, conversa comigo". Culpa nossa, diga-se de passagem, que tememos a procura. Mas também, como fazer isso? "Fulano se encontra afogado em crises, dá um tempo..." Um tempo, respondo, eu dou, o que não posso é viver bem no meio da ansiedade, depressão, baixa auto-estima, indecisão – estas pedras eficazes no caminho nosso de cada dia. Vamos nos auto-ajudar então, ora pois pois, que é o melhor a fazer para prosseguir em meio a selva. Sem exploração comercial, por favor. Botemos prá subir sozinhos mesmos.
Penso tais abobrinhas enquanto busco no velho e bom Google: "inteligência emocional". Meio batido, eu sei, o livro, a idéia, tudo bastante velho. Com certeza, saiu da crista da onda, faz tempo. Foi, contudo, o que ocorreu a esta velha aqui na tentativa de entender alguns realidades indesejáveis que tem constatado em sua existência de trinta e poucos anos. Aquela relativamente-recente-inadequação-profissional- corrosiva-dos-dias-contínuos. O antigo sentimento-súbito-de-solidão-sem-razão-aparente, que já não assusta tanto, mas ainda dá seus botes. Os demônios invisíveis, enfim. O "Poema em Linha Reta" a esbofetear com altivez os ouvidos da mente: "Nunca conheci quem tivesse levado porrada./Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. ". Que baita ilusão... Olho em torno e observo o vazio das minhas considerações tétricas. É tão simples. Auto-cacetadas, muito choro e vela, logo o espelho comenta: "Mas que otária..." Como é possível crer em tantos pensamentos pecaminosos sobra a incapacidade do ser? "É ilógico, minha filha, cadê ele o sentido?", continua. "Veja você, olhe ao redor... ". "Debrei, doida", diria o borracheiro (não aquele bobão da novela das 8). O fato singelo é que nós sabemos as respostas a tudo que indagamos. É tão simples, tão simples, que enjoa. Nós sabemos. A gente só quer um afago, ouvir a mamãe dizer: "não, meu amor, não é isso, olha só...". Mas como a mamãe também tem seus problemas...
Vocês dirão: isso é coisa de gente criada com vó (no meu caso, uma mãe tão doce quanto uma vó). É fato, é coisa de gente criada com vó, fazer o quê? Cada qual com seu qual. Mesmo nisso fomos privilegiados, a gente teve "vó". Mais uma razão para abandonar as choramingas. Mas, no fim, fazer o quê, se o corpo se ressente da falta de carinho? O fato é: apenas o carinho não está disponível todo tempo, ou o prazer, tem que correr atrás! A felicidade não vem correndo descabelada da rua e gritando: "Cheguei!". Agradecer o que se possui é sempre um bom começo, enxergar o que se fez, ver que tudo não passa de uma péssima impressão de um dia ruim. Como aquela de que se queixa o Chico na canção:
"Tem dias que a gente se sente
como quem partiu ou morreu,
a gente estancou de repente
ou foi o mundo então que cresceu?"
(Roda Viva – Chico Buarque)
Pois é, colegas, este versos seriam o único suspiro do post deste dia sorumbático que está findando melhorado. No fim das contas, eles apareceram aqui. Mas com uma função menos destrutiva, o que é sempre bom. Lamentar-se, perdoem a expressão os muitos pudicos, é uma boa duma porra, olha que sei do que falo. Então, como costumo dizer, vá fritar seu peixe, Dona Maria, que a fila tá andando. E você não tá fora dela, minha nêga, porque você está aqui, comendo do roçado...
Ui, que terminou desbocado o post...
Nenhum comentário:
Postar um comentário