... e euzinha não atender?
Nem morta.
Vai, Cecília, canta teu canto, ainda que triste, porque é seu dia. Porque vou lhes contar um segredo, não é fácil encontrar um poema alegre da Cecília. A Cecília é uma poetisa da tristeza, o que não é uma pena para a arte, mas deve sim ter sido para ela. Qual não foi a minha surpresa ao encontrar isto, vejam! Uma pedra preciosa!
Quase penso eu não ser dela. Mas é, sim. Gostei tanto que vou colar numa parede lá em casa, heheheh...
A arte de ser feliz
Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Ops. Quase esqueço. Fui chamada para a Blogagem Coletiva pelo Lino. Agradeço a lembrança!
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