28 de nov. de 2012

Não é que começa mesmo? Digo, recomeça...

Da safra dos velhos clichês aquela frase que a gente cansou de ouvir, da qual nos esforçamos por esquecer quando eles, os 40, vão chegando: a vida começa aos 40.

O mais incrível é que depois de um tempo, depois da passagem, do marco, começa-se a compreender que é a pura verdade. Assim como fica muito mais fácil dizê-la.

A vida começa aos 40, mas começa de novo. Digo desta maneira por ser no mínimo uma imensa sacanagem com os primeiros anos de vida desconsiderá-los tanto. Então o que eu reformularia no ditado? O verbo. A vida recomeça aos 40.

Depois de alguns apuros impossíveis de evitar, vem a aceitação desta nova realidade: você não é mais jovem. Não é "você não é mais tão jovem". É "você não é mais jovem", mesmo. Sem choramingas. Sei que os de 60, 70 (excluí os de 50, estará isto certo? Será que muda muito? ) dirão "mas ela não sabe de nada". Deixemos contudo este adendo para daqui a duas décadas. O fato é: você não é mais jovem. Precisa de óculos para ler. Finalmente cedeu e comprou meias de pressão, que decerto usará diariamente, sob pena de sofrer dessa aflição das pernas que não te abandona jamais. Ah, e a velha dificuldade de perder peso? Triplica... Esta com certeza é a pior parte da ladainha...

Tudo isso, mas... e daí?

Os amigos da seus filhos já são do seu tamanho e ainda te chamam de tia. De senhora? Te chamam faz um tempo. Foi estranho no começo, depois ficou normal. Nada mudou em você, salvo os óculos, o peso... Aquele medo continua igual, as suas paixões se mantém, a mania por canções, os vícios e defeitos todos, você continua você. Não há nada que a faça sentir-se uma senhora, uma tia, mas ... o que fazer sobre os outros? Nada - esta palavra impraticável antes dos 40. Fazer nada sobre os outros. Os outros são os outros. A parte boa sobre fazer 40 anos é que você começa a compreender exatamente que você é você. O que os demais pensam sobre você passa a conter infinita irrelevância de uma pena. De um biscoito esquecido no prato. Algo que pode ser expresso com esta simplicidade: que se danem - não pagam suas contas. Sendo a recíproca verdadeira: que me dane eu sobre os fatos alheios, não pago contas alheias.

É tão bom. (E você esperou tanto por este momento, o de ser uma árvore velha, por que debateu-se tanto?)

É um resgate de um momento bem anterior, e que você perdera. Você esqueceu. Agora, lembrou. Você tinha se perdido, mas se reencontrou.

Naquele momento anterior, contudo, sua fala não tinha legitimidade alguma. Não tinha poder, não era escutada. Era apenas uma crença pessoal, mas distraída, tão distraída, podia tanto se perder que se perdeu. Tão diferente da certeza de então.

Não que tudo esteja perfeito. Por exemplo, seus filhos. As coisas continuam as mesmas, apenas aos 40 você se convence da impossibilidade de convencê-los sobre esta verdade irrefutável (sim, aos 40 pode-se afirmar sem medo que há verdades irrefutáveis, ainda que elas não existam): você sabe mais que eles. Sabe mais não por inteligência, mas por experiência. Vai levar alguns anos para que compreendam isto, você sabe muito bem. Por experiência própria.

Superados todos os momentos quem-sou-para-onde-vou-porque-eu vem a melhor das perdas: a perda da vergonha. Da vergonha de demonstrar que nem sempre se está bem. De dizer muitas das coisas que pensa. E de poder responder: "olha, eu estou errada e vou continuar assim, algum problema?" Os 40 anos te dão esta possibilidade, é um convite tentador demais, jamais fora ofertado a sua pessoa de forma tão descomprometida. A única - que é também melhor - alternativa é aceitá-lo.